quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Entendendo o Companheirismo



A Maçonaria, como a nossa vida profana, é feita de etapas. Umas difíceis, outras menos difíceis, umas lentas, outras menos lentas. Uma coisa é certa, a superação dessas etapas é pela aquisição de novos conhecimentos e nem por isso tornam-se elas mais fáceis. O grau de dificuldade continua o mesmo, pois são sempre etapas novas e o novo, por ser desconhecido, é sempre difícil de ser vencido.
Na minha infância, uma das virtudes que mais me foi enfatizada foi a da responsabilidade de buscar sempre a melhoria do meu eu.
Hoje, sinto-me mais tranqüilo. Sou conhecedor de parte dos meus limites, mas isso não me faz perder a noção do que represento e do quanto sobre a minha pessoa recai a necessidade de seguir os bons exemplos e praticá-los, sempre que possível.
Quando acima digo sinto-me mais tranqüilo, não estou utilizando-me de uma possível pretensão. Simplesmente quero dizer que maior é a responsabilidade de quem ensina e encontra-me ainda na fase do aprendizado.
Recordo-me que meu pai, quando em família, sempre disse: “Os filhos hão de ter sempre um guia, para que o seguindo não se afastem dos bons caminhos”.
Por isso meus Irmãos, a etapa de Companheiro é extremamente significativa, pois é nela que se adquiri “peças” de um mosaico que mais tarde vai definir o que é ser um Mestre.
Um homem não se faz, se cria.
Os Mestres são totalmente responsáveis por essa criação, pois são eles é que vão determinar quem serão os Mestres do amanhã.
A Maçonaria simbólica é dividida em três etapas: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Nossas vidas também são divididas em três etapas: Infância, Adolescência e Maturidade.
Quando traço o paralelo entre o grau de Aprendiz e a Infância fala do início da vida. É nessa etapa da vida que adquirimos nossas virtudes. Captamos bons e maus exemplos. Se fizermos parte de uma família, no sentido correto da palavra, absorveremos somente os bons exemplos.
Não é por acaso que, quando ainda Aprendiz, somos incessantemente levados a entender o que vem a ser o “desbaste da pedra bruta”.
Como na Infância não sabemos ler nem escrever, só nos compete a absorção de ensinamentos e entender o que é bom ou ruim, o que é demais ou pouco, e assim por diante.
Nesta fase estamos trabalhando o nosso interior. A tendência é de que uma criança bem criada venha a tornar-se um bom homem, um Aprendiz bem conduzido venha a tornar-se um excelente Mestre.
Quando chegamos ao grau de Companheiro ou a Adolescência, estamos diante de outro grau de dificuldade.
Neste momento continuamos a buscar exemplos e passamos a ser, nós próprios, exemplos. Continuamos a nos mirar nos Mestres, mas também já somos vistos pelos Aprendizes. Deparamo-nos com coisas antes não imaginadas, as quais nos fazem, às vezes, achar que já somos alguma coisa ou alguém.
No Ritual de Companheiro, quando do ensinamento da Marcha, talvez ali esteja a grande filosofia desse grau. No meu entendimento, os passos laterais querem dizer que, quando nesta fase, temos que encontrar ou buscar o novo ou novas respostas, mas não devemos nos afastar da linha reta de onde partimos. Um passo para direita compensado por outro para a esquerda.
Imaginem meus Irmãos, apresentarmos uma novidade a alguém que ainda não tem o devido controle sobre si mesmo ou não esteja preparado para entendê-la. Podemos estar acordando esse alguém para alguma coisa não desejada nem por nós nem por ele próprio.
A Adolescência é a fase da rebeldia, é quando achamos que somos. É quando temos acesso a parcos conhecimentos e achamos que já podemos utilizá-los.
Enganam-se os que assim pensam. Como na Adolescência, o Companheiro pode e deve ter acesso a novos conhecimentos, mas a sua maior sabedoria será em assimilá-las e armazená-las para utilizá-las conforme as situações futuras.
Quando Aprendiz, trabalhamos o nosso interior e quando Companheiro nos voltamos para o conhecimento exterior.
Coloquemos os dois tipos de conhecimento, interior e exterior, a disposição de quem não sabe utilizá-los e provavelmente não chegaremos a um bom homem.
Por isso, o grau de Companheiro não nos coloca somente diante de novos conhecimentos. Ele nos coloca diante de um maior ensinamento que é o do controle do homem sobre si mesmo. Os que conseguem essa felicidade, quando chegarem a Maturidade ou ao Mestrado, terão a plena consciência e certeza do momento certo do uso desses conhecimentos.
Na Infância aprendemos, na Adolescência conhecemos, na Maturidade usamos e ensinamos. Como Aprendiz absorvemos como Companheiro aprendemos a controlar, como Mestre espargimos ou doamos a energia e os conhecimentos acumulados.
Em nossas instruções de Companheiro alguns detalhes marcaram um pouco mais e talvez sejam eles os determinantes para que possamos entender o conteúdo desse grau.
A Maçonaria nos coloca fazendo parte de Colunas ou grupos e é a interação dessas Colunas que fazem o homem chegar próximo da perfeição.
Podemos dizer que da junção da Coluna do Norte, simbolicamente representante da Força e Força é igual a Energia, com a Coluna do Sul, simbolicamente representante da Estabilidade, e Estabilidade é igual a Controle, faremos surgir algo quisto pelo Grande Arquiteto do Universo, ou seja, o homem criado a sua imagem e semelhança.
As Colunas são as representações do físico e do espiritual, do real e do sacerdotal. São elas que juntas, e em perfeito equilíbrio, virão a dar representação ao Maçom.
Quando da elevação, o Iniciado já não tem mais os olhos vendados. Simbolicamente começa a ver mais do que a si próprio, começa a ter acesso ao que esta a sua volta.
Começa a utilizar os seus sentidos, que são: a visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar.
O homem para conhecer bem e ter o domínio perfeito das coisas precisa impregnar-se do que o Grande Arquiteto do Universo criou e lhe oferece, utilizando-se dos seus sentidos.
São eles as ferramentas utilizadas pelo homem para não deixar nada do que esta a nossa volta passar despercebido. São eles que transmitem imediatamente esses dados ao nosso armazenador de conhecimentos, que é o cérebro.
Os sentidos estão no inicio de uma cadeia, estão na ponta do que podemos chamar de captação de energia exterior.
O conhecimento humano nada mais é do que o acúmulo de tudo o que os sentidos puderam captar.
No grau de Companheiro começamos a enxergar, começamos a ter acesso ao exterior, começamos a conhecer.
Neste mesmo grau nos são apresentadas as chamadas artes liberais, definidas em nossos rituais como sendo: a Gramática, a Retórica, a Lógica, a Aritmética, a Geometria, a Astronomia e a Música.
Para o Maçom o uso das artes liberais tem a função de projetar os conhecimentos de forma ordenada. Elas são os instrumentos utilizados para uma avaliação do que foi possível assimilar e/ou funcionam como um correio do que o homem pode fazer por si próprio, pelos Irmãos e pela Humanidade.
Formada a cadeia, que começou pelo auto polimento, passou pela absorção ou acúmulo e chegou ao ordenamento de conhecimentos, nós podemos tentar começar a entender o que é a verdade.
Baseado nos meus ainda pequenos conhecimentos poderia dizer que a verdade para o homem é como a impressão digital. Cada um tem a sua. Tudo depende da forma como vamos, ouvimos, sentimos ou entendemos e que nos é chegado.
A Vida é uma verdade, e o homem a vive e transforma de acordo com suas boas e mais virtudes.
A única verdade que independe de qualquer outra coisa e a qual o homem não tem ingerência é a do conhecer. Cumprimos as etapas de nossas vidas aprendendo e aprendemos até o fim.
E o que nos define como Maçons são os bons conhecimentos que acumulamos e as boas atitudes que praticamos.
São as únicas coisas que nos fazem bem e que podemos transmitir ou deixar aos nossos semelhantes.
Por isso, ao Companheiro compete a diligência pessoal na busca do conhecimento e a aptidão freqüente à prática do bem.

Mestre Maçom Robson C. Cerqueira Ferreira

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